Entendendo a Economia a 4 setores
Por Fábio Lemes
Os quatro
setores fundamentais de uma economia são as famílias (ofertam fatores de
produção), as empresas (ofertam bens e serviços) o governo (que administra as
políticas fiscais, monetárias, cambiais, comerciais e de rendas) e o setor
externo (que são os demais países com os quais fazemos trocas de mercadorias,
serviços e capitais).
Na primeira
parte da disciplina, estudamos a microeconomia, onde aprendemos como se dá a
relação entre as famílias e empresas. Para facilitar a analise, ignorou-se o
papel do estado e do setor externo (ou seja, estudou-se a economia a dois
setores).
No entanto, as
leis microeconômicas só são plenas na medida em que exista livre concorrência,
ou seja, que todas as firmas tenham condições semelhantes de ofertar seus
produtos, de maneira que não haja lucros extraordinários, imperando as leis da
oferta e demanda, em condição coeteris
paribus. Em tese isso ocorre em equilíbrio entre oferta e demanda, com
pleno emprego dos fatores de produção.
Como vimos, no
entanto, o mercado em concorrência perfeita não é a única forma de organização
econômica. Na verdade, a concorrência perfeita é mais uma abstração que nos
serve de modelo de analise (é como um Unicórnio, que todos sabem como é, mas
ninguém nunca viu um). Na prática, tem-se os monopólios, oligopólios,
concorrência oligopolista, entre outros, de maneira que é necessário organizar
este mercado, corrigindo suas falhas e buscando atingir o pleno emprego dos
fatores de produção.
Nesse sentido, o
Poder Público tem uma finalidade econômica, que é a de promover o equilíbrio de
mercado com pleno emprego dos fatores de produção. Para isso utiliza políticas
fiscais e monetárias, visando o crescimento econômico (ou controle da inflação).
Com isto, não quero dizer que o Poder Público ressume-se a isto, seu papel é
com certeza maior, é a entidade que corporifica a nação, e que tem funções de
promover o bem público, mas em termos strict sensu,
na economia, seu papel é de corrigir as falhas do mercado.
O Poder Publico,
para cumprir suas atividades – segurança, saúde, educação, etc – precisa
arrecadar tributos e gastar os mesmo. A forma como faz isso (maior arrecadação,
menor gasto, etc) é o que chamamos de políticas fiscais. Outra função do Poder
Publico é oferecer moedas (dinheiro), que é um meio de troca aceito por todos,
visando dinamizar a economia. A forma como o Estado oferta moeda (mais ou menos
moedas), é o que chamamos de políticas monetárias.
E como estudamos
já, dependendo da combinação de políticas fiscais e monetárias, estimula-se um
maior ou menor crescimento da atividade econômica. De forma geral, pode-se
dizer que políticas fiscais expansionistas (elevação do gasto público) tendem a
contribuir para o crescimento. Por outro lado, medidas monetárias restritivas
(diminuição da oferta de moedas) tendem a contribuir para a estagnação.
Evidentemente
que se o Poder Público gastar mais do que arrecadar (déficit), gera um
endividamento (divida pública, que pode ser interna ou externa). Para conter
esse endividamento o governo pode elevar a carga tributária (mais impostos),
diminuir o gasto (corte de serviços públicos) e/ou negociar empréstimos, pela
venda de títulos da dívida pública. Obviamente que pode fazer as três coisas
simultaneamente, mas cada uma tem seus efeitos negativos.
A opção mais
utilizada é a venda de títulos da divida pública, que são uma espécie de Nota
Promissória (ou, mal comparando, um cheque pré-datado) que o governo emite, em
troca de dinheiro “vivo”. E estes títulos pagam um juro. No Brasil, o que
define o juro que será pago pelo governo é a Taxa Básica de Juros, ou taxa
SELIC, que é definida pelo Conselho Monetário Nacional e administrada pelo
Banco Central. A administração desta taxa de juros é considerada política
monetária, pois quanto maior é a taxa de juros, mais as pessoas que tem
dinheiro o emprestam ao governo, diminuindo a oferta de moeda na atividade
econômica. E se a taxa de juros do governo é menor, estas pessoas (firmas,
investidores), emprestam para quem deseja consumir ou fazer investimentos
produtivos.
Claro que se o
dinheiro que o governo pega emprestado é para ser investido na Formação Bruta
de Capital Fixo, ou o que chamamos de “investimento”, ou se é emprestado a
empresas que façam investimento, este pode compensar a diminuição da moeda. Mas
se o Poder Público pega dinheiro para pagar dívidas antigas – sobretudo seus
juros – então resta apenas a diminuição do capital para aquecer a economia.
Toda ação de
produção, compra, venda, prestação de serviços são atividades econômicas, sendo
que quanto mais aumentam estas atividades, mais a economia cresce. Chamamos
estas atividades de PRODUTO, quando representam bens e serviços
disponibilizados para o consumo final. Sem contar as rendas obtidas no mundo
externo, temos o Produto Interno Bruto – PIB, que é a soma em valores
monetários de todos os bens e serviços produzidos no país. Quanto maior for o
PIB, quer dizer que mais nossa economia cresceu. Vejam bem, economia não é
juntar dinheiro, economia é atividade de produzir e comercializar bens e
serviços, de forma que isto utilize recursos naturais, humanos e capitais,
gerando emprego e renda.
De forma geral
entende-se que todo Produto é equivalente a uma Renda. Por isso diz-se que o
PIB é igual a Renda Nacional, assim como toda renda se transforma em consumo ou
investimento (ou poupança, que será consumo ou investimento no futuro).
Mas nenhum país
consegue produzir sozinho tudo que precisa. E ao mesmo tempo, todos os países
têm produtos sobrando. Portanto, os países fazem trocas de bens e serviços entre
si, que chamamos de Comercio Internacional e passamos a ter o quarto setor da
economia.
Porém, como cada
país te uma moeda diferente, e com a moeda é um facilitador de trocas, torna-se
necessário estabelecer um parâmetro de trocas que seja aceito pelos dois lados.
Por exemplo, se
dois países forem trocar soja e chip de computador, quantos sacos de soja terão
que ser dado por quantos chips de computadores? Se para dois produtos já é
difícil decidir, imaginem definir as quantidades de trocas de todos os bens e
serviços que existem, entre todos os países. Por isso que se calculam as trocas
em moeda/dinheiro, pois cada país tem apenas uma moeda oficial.
Isto reduz o
problema, mas não resolve, pois ainda os países precisam definir quanto vale
suas moedas, ou seja, um REAL do Brasil vale quantas LIBRAS inglesas?? Ou
vice-versa. Para isso, adotou-se uma moeda-referência, na qual todos os países
calculam suas moedas e fazem as trocas com base nela.
Por motivos
econômicos, políticos, militares, que hoje fazem parte da história recente do
mundo, o Dólar americano tornou-se esta moeda–referência. Todos os países fazem
a cotação cambial entre suas moedas e o dólar. Isto é o que chamamos taxa de
cambio (países com a economia mais estabilizada, começam cada vez mais a usar
uma cesta de moedas para definir seu cambio, mas o dólar segue sendo a
principal moeda para trocas internacionais).
Ou seja, Brasil
define quantos Reais vale US$ 1,00 (dólar), Inglaterra define quantas Libras
valem o mesmo dólar, e ai os dois países (Brasil e Inglaterra), fazem trocas em
dólar. Dando o exemplo de forma mais clara:
1 saco de soja
de 60kg = R$ 45,00
1 chip
eletrônico = £ 20,00 (libras esterlinas).
US$ 1,00 = R$
1,60
US$ 1,00 = £
0,60
Em dólares, um
saco de soja custa US$ 28,00 e um chip eletrônico custa US$ 33,00. Portanto, se
o Brasil comprar um chip da Inglaterra, terá que pagar com um saco de soja +
US$ 5,00. Parece difícil de calcular, mas é bem mais fácil do que seria
calcular direto soja x chip. Mas é claro que para este soja ir até a Inglaterra
e para o para o chip vir ao Brasil, será necessário um meio de transporte. E
este transporte terá um custo, que também será contabilizado em dólar. Para
controlar tudo isso, temos o Balanço de Pagamentos, que registra as
movimentações internacionais.
Antes disto,
porém, importante lembrar como se definem as taxas de cambio. Basicamente tem
duas formas: cambio livre ou cambio fixo.
O cambio é livre
quando o valor da moeda nacional em relação a moeda internacional é definido
pela oferta e demanda, ou seja, todos os exportadores, que recebem em dólar,
depositam seus dólares (isso é obrigatório) no Banco Central (BC). E todos os
importadores, que pagam em dólares, compram moedas lá. Se tiver mais gente
comprando do que vendendo dólares, a tendência é esta ficar mais cara no Brasil,
ou seja, nossa moeda fica desvalorizada frente ao dólar. Mas se tiver mais
dólares entrando no país que saindo, temos uma valorização de nossa moeda. Uma
variação disto é o cambio sujo, quando o governo atua no mercado comprando e
vendendo moeda estrangeira (atuando da mesma forma que um agente privado), com
o objetivo de influenciar o cambio.
Com o cambio
fixo, o governo, por meio do BC simplesmente decide quanto será a taxa de cambio.
Pode definir o valor por meio de cálculos ou por decisão política apenas. Uma
variação deste sistema são as bandas cambiais, quando o governo decide os
limites mínimos e máximos que o cambio pode variar.
Sobre a Balança
de Pagamentos, como dito antes, é a forma de registrar a movimentação econômica
internacional. Ela se divide em (1) Balança Comercial, que registra as compras
e vendas de bens, (2) Balança de Serviços, que registra os serviços prestados
por estrangeiros para nós, ou que nós prestamos para estrangeiros (quando um
Belga contrata um contador brasileiro para lhe representar no país, por
exemplo). Temos ainda as (3) Transferências Unilaterais, que registram as
doações entre os países. O “balanço” destas três contas nos dá o Saldo de
Transações Correntes (4 = 1 + 2 +3), que representa estas trocas de bens e
serviços.
Depois temos a (5)
Conta de Capitais, que contabiliza apenas as transferências de dinheiro, onde
registra-se os lucros repassados, os empréstimos e juros recebidos ou pagos, os
investimentos (produtos ou especulativos), etc.
Tem-se ainda uma
conta de (6) Erros e Omissões, para registrar a diferença nas contas (até o
erro é calculado). E por fim, somando-se o Saldo de Transações Correntes com o
Saldo da Conta de Capitais e o Saldo dos Erros e omissões, tem-se o Saldo do
Balanço de Pagamentos do País (7 = 4+ 5
+ 6).
Se o saldo é
positivo, quer dizer que entrou mais dólares do que saiu. Se ocorrer o
contrário, então o saldo é negativo.
Pode-se também calcular
o PRODUTO NACIONAL BRUTO, que é semelhante ao PIB, com a diferença que ele soma
os lucros de nossas empresas no exterior ou outras rendas que brasileiros no
exterior remetem ao país e desconta os recursos (rendas) enviadas ao exterior.
A macroeconomia
moderna é o estudo dos instrumentos de política econômica que visam o
equilíbrio macroeconômico em pleno emprego. Lembrando que, pelas hipóteses
keynesianas, no curto prazo não temos problema de Oferta Agregada (OF), pois as
empresas trabalham com capacidade ociosa, sendo que, caso a demanda agregada
aumentem, as fábricas apenas vão aumentar a produção, sem aumentar os preços.
Para atingir o
pleno emprego, portanto, as medidas voltadas ao crescimento econômico devem
centrar-se na elevação da Demanda Agregada (DA). Esta é uma variação do consumo
das família ( C ), dos investimentos das empresas (I), dos gastos do Poder
Público (G ) e do saldo liquido das operações externas (X – M). Ou seja, o
governo deve estimular uma destas variáveis (ou todas) para elevar a demanda
agregada.
O Gasto Público
é a variável que mais rapidamente reflete-se na elevação da DA, pois assim que
o governo anuncia o gasto, os setores que serão contemplados já preparam-se
para fornecer os bens e serviços que serão demandados.
O Consumo das
famílias representa a maior parte da DA, sendo que medidas que facilitem o
consumo são importantes (crédito facilitado, baixas taxas de inflação, etc). O
consumo é determinado pela propensão marginal a consumir, resultante da
variação entre o consumo agregado pela variação na Renda Nacional Disponível.
A renda nacional
disponível é a quantidade de recursos que as famílias efetivamente tem para
gastar. É resultado da Renda Nacional a custo dos fatores, descontado a
tributação e acrescido os subsídios e rendas externas.
Mas o
investimento tem um papel mais importante, pois além de impulsionar a DA no
presente (curto prazo), também possibilita a elevação da OF no futuro. Porém, a
efetivação do mesmo depende de fatores econômicos (rentabilidade, taxa de
juros) com fatores não econômicos (otimismo, confiança, etc). E não esquecemos que
o investimento também é um reflexo da poupança, que por sua vez, é determinada
pela propensão marginal a poupar de cada economia (a parte da RND disponível
que não é gasta com consumo vira poupança).
O setor externo
também tem grande importância, uma vez que possibilita trazer parte da riqueza
exterior para nossa economia (X > M), ou um efeito negativo, a medida que
compramos, pagamos serviços ou remetemos mais capitais para o mundo externo (X <
M).
No curto prazo,
visando o pleno emprego, as políticas macroeconômicas vão influir nestes
agregados, visando estimular a DA. Porém, se houver problemas inflacionários (o
que contradiz a hipótese keynesiana), medidas restritivas terão que ser
adotadas, ou seja, diminuição da DA, o que fatalmente levará a redução do
crescimento econômico, estabelecendo um equilíbrio abaixo do pleno emprego.
O estudo da
economia é o estudo de tudo isso, sempre tendo em mente que o objetivo da
atividade econômica é fornecer os bens e serviços que as pessoas precisam. Para
isso estuda-se as melhores formas de se incentivar o crescimento econômico e
principalmente, o desenvolvimento econômico e social. Problemas como
desemprego, inflação (que é a alta continua de preços), estagnação, são sinais
de ajustes ou desajustes da atividade econômica.
Evidentemente
que a teoria econômica é bem mais complexa do que esta simplificação, que fiz, mas
de certa forma, acredito que este texto apresenta um esboço geral do que
estudamos na segunda metade do semestre.
Boa prova a
tod@s!!