sábado, 2 de junho de 2012

Entendendo a Economia a 4 setores


Entendendo a Economia a 4 setores
Por Fábio Lemes

Os quatro setores fundamentais de uma economia são as famílias (ofertam fatores de produção), as empresas (ofertam bens e serviços) o governo (que administra as políticas fiscais, monetárias, cambiais, comerciais e de rendas) e o setor externo (que são os demais países com os quais fazemos trocas de mercadorias, serviços e capitais).

Na primeira parte da disciplina, estudamos a microeconomia, onde aprendemos como se dá a relação entre as famílias e empresas. Para facilitar a analise, ignorou-se o papel do estado e do setor externo (ou seja, estudou-se a economia a dois setores).

No entanto, as leis microeconômicas só são plenas na medida em que exista livre concorrência, ou seja, que todas as firmas tenham condições semelhantes de ofertar seus produtos, de maneira que não haja lucros extraordinários, imperando as leis da oferta e demanda, em condição coeteris paribus. Em tese isso ocorre em equilíbrio entre oferta e demanda, com pleno emprego dos fatores de produção.

Como vimos, no entanto, o mercado em concorrência perfeita não é a única forma de organização econômica. Na verdade, a concorrência perfeita é mais uma abstração que nos serve de modelo de analise (é como um Unicórnio, que todos sabem como é, mas ninguém nunca viu um). Na prática, tem-se os monopólios, oligopólios, concorrência oligopolista, entre outros, de maneira que é necessário organizar este mercado, corrigindo suas falhas e buscando atingir o pleno emprego dos fatores de produção.

Nesse sentido, o Poder Público tem uma finalidade econômica, que é a de promover o equilíbrio de mercado com pleno emprego dos fatores de produção. Para isso utiliza políticas fiscais e monetárias, visando o crescimento econômico (ou controle da inflação). Com isto, não quero dizer que o Poder Público ressume-se a isto, seu papel é com certeza maior, é a entidade que corporifica a nação, e que tem funções de promover o bem público, mas em termos strict sensu, na economia, seu papel é de corrigir as falhas do mercado.

O Poder Publico, para cumprir suas atividades – segurança, saúde, educação, etc – precisa arrecadar tributos e gastar os mesmo. A forma como faz isso (maior arrecadação, menor gasto, etc) é o que chamamos de políticas fiscais. Outra função do Poder Publico é oferecer moedas (dinheiro), que é um meio de troca aceito por todos, visando dinamizar a economia. A forma como o Estado oferta moeda (mais ou menos moedas), é o que chamamos de políticas monetárias.

E como estudamos já, dependendo da combinação de políticas fiscais e monetárias, estimula-se um maior ou menor crescimento da atividade econômica. De forma geral, pode-se dizer que políticas fiscais expansionistas (elevação do gasto público) tendem a contribuir para o crescimento. Por outro lado, medidas monetárias restritivas (diminuição da oferta de moedas) tendem a contribuir para a estagnação.

Evidentemente que se o Poder Público gastar mais do que arrecadar (déficit), gera um endividamento (divida pública, que pode ser interna ou externa). Para conter esse endividamento o governo pode elevar a carga tributária (mais impostos), diminuir o gasto (corte de serviços públicos) e/ou negociar empréstimos, pela venda de títulos da dívida pública. Obviamente que pode fazer as três coisas simultaneamente, mas cada uma tem seus efeitos negativos.

A opção mais utilizada é a venda de títulos da divida pública, que são uma espécie de Nota Promissória (ou, mal comparando, um cheque pré-datado) que o governo emite, em troca de dinheiro “vivo”. E estes títulos pagam um juro. No Brasil, o que define o juro que será pago pelo governo é a Taxa Básica de Juros, ou taxa SELIC, que é definida pelo Conselho Monetário Nacional e administrada pelo Banco Central. A administração desta taxa de juros é considerada política monetária, pois quanto maior é a taxa de juros, mais as pessoas que tem dinheiro o emprestam ao governo, diminuindo a oferta de moeda na atividade econômica. E se a taxa de juros do governo é menor, estas pessoas (firmas, investidores), emprestam para quem deseja consumir ou fazer investimentos produtivos.

Claro que se o dinheiro que o governo pega emprestado é para ser investido na Formação Bruta de Capital Fixo, ou o que chamamos de “investimento”, ou se é emprestado a empresas que façam investimento, este pode compensar a diminuição da moeda. Mas se o Poder Público pega dinheiro para pagar dívidas antigas – sobretudo seus juros – então resta apenas a diminuição do capital para aquecer a economia.

Toda ação de produção, compra, venda, prestação de serviços são atividades econômicas, sendo que quanto mais aumentam estas atividades, mais a economia cresce. Chamamos estas atividades de PRODUTO, quando representam bens e serviços disponibilizados para o consumo final. Sem contar as rendas obtidas no mundo externo, temos o Produto Interno Bruto – PIB, que é a soma em valores monetários de todos os bens e serviços produzidos no país. Quanto maior for o PIB, quer dizer que mais nossa economia cresceu. Vejam bem, economia não é juntar dinheiro, economia é atividade de produzir e comercializar bens e serviços, de forma que isto utilize recursos naturais, humanos e capitais, gerando emprego e renda.

De forma geral entende-se que todo Produto é equivalente a uma Renda. Por isso diz-se que o PIB é igual a Renda Nacional, assim como toda renda se transforma em consumo ou investimento (ou poupança, que será consumo ou investimento no futuro).

Mas nenhum país consegue produzir sozinho tudo que precisa. E ao mesmo tempo, todos os países têm produtos sobrando. Portanto, os países fazem trocas de bens e serviços entre si, que chamamos de Comercio Internacional e passamos a ter o quarto setor da economia.

Porém, como cada país te uma moeda diferente, e com a moeda é um facilitador de trocas, torna-se necessário estabelecer um parâmetro de trocas que seja aceito pelos dois lados.

Por exemplo, se dois países forem trocar soja e chip de computador, quantos sacos de soja terão que ser dado por quantos chips de computadores? Se para dois produtos já é difícil decidir, imaginem definir as quantidades de trocas de todos os bens e serviços que existem, entre todos os países. Por isso que se calculam as trocas em moeda/dinheiro, pois cada país tem apenas uma moeda oficial.

Isto reduz o problema, mas não resolve, pois ainda os países precisam definir quanto vale suas moedas, ou seja, um REAL do Brasil vale quantas LIBRAS inglesas?? Ou vice-versa. Para isso, adotou-se uma moeda-referência, na qual todos os países calculam suas moedas e fazem as trocas com base nela.

Por motivos econômicos, políticos, militares, que hoje fazem parte da história recente do mundo, o Dólar americano tornou-se esta moeda–referência. Todos os países fazem a cotação cambial entre suas moedas e o dólar. Isto é o que chamamos taxa de cambio (países com a economia mais estabilizada, começam cada vez mais a usar uma cesta de moedas para definir seu cambio, mas o dólar segue sendo a principal moeda para trocas internacionais).

Ou seja, Brasil define quantos Reais vale US$ 1,00 (dólar), Inglaterra define quantas Libras valem o mesmo dólar, e ai os dois países (Brasil e Inglaterra), fazem trocas em dólar. Dando o exemplo de forma mais clara:

1 saco de soja de 60kg = R$ 45,00
1 chip eletrônico = £ 20,00 (libras esterlinas).

US$ 1,00 = R$ 1,60
US$ 1,00 = £ 0,60

Em dólares, um saco de soja custa US$ 28,00 e um chip eletrônico custa US$ 33,00. Portanto, se o Brasil comprar um chip da Inglaterra, terá que pagar com um saco de soja + US$ 5,00. Parece difícil de calcular, mas é bem mais fácil do que seria calcular direto soja x chip. Mas é claro que para este soja ir até a Inglaterra e para o para o chip vir ao Brasil, será necessário um meio de transporte. E este transporte terá um custo, que também será contabilizado em dólar. Para controlar tudo isso, temos o Balanço de Pagamentos, que registra as movimentações internacionais.

Antes disto, porém, importante lembrar como se definem as taxas de cambio. Basicamente tem duas formas: cambio livre ou cambio fixo.

O cambio é livre quando o valor da moeda nacional em relação a moeda internacional é definido pela oferta e demanda, ou seja, todos os exportadores, que recebem em dólar, depositam seus dólares (isso é obrigatório) no Banco Central (BC). E todos os importadores, que pagam em dólares, compram moedas lá. Se tiver mais gente comprando do que vendendo dólares, a tendência é esta ficar mais cara no Brasil, ou seja, nossa moeda fica desvalorizada frente ao dólar. Mas se tiver mais dólares entrando no país que saindo, temos uma valorização de nossa moeda. Uma variação disto é o cambio sujo, quando o governo atua no mercado comprando e vendendo moeda estrangeira (atuando da mesma forma que um agente privado), com o objetivo de influenciar o cambio.

Com o cambio fixo, o governo, por meio do BC simplesmente decide quanto será a taxa de cambio. Pode definir o valor por meio de cálculos ou por decisão política apenas. Uma variação deste sistema são as bandas cambiais, quando o governo decide os limites mínimos e máximos que o cambio pode variar.

Sobre a Balança de Pagamentos, como dito antes, é a forma de registrar a movimentação econômica internacional. Ela se divide em (1) Balança Comercial, que registra as compras e vendas de bens, (2) Balança de Serviços, que registra os serviços prestados por estrangeiros para nós, ou que nós prestamos para estrangeiros (quando um Belga contrata um contador brasileiro para lhe representar no país, por exemplo). Temos ainda as (3) Transferências Unilaterais, que registram as doações entre os países. O “balanço” destas três contas nos dá o Saldo de Transações Correntes (4 = 1 + 2 +3), que representa estas trocas de bens e serviços.

Depois temos a (5) Conta de Capitais, que contabiliza apenas as transferências de dinheiro, onde registra-se os lucros repassados, os empréstimos e juros recebidos ou pagos, os investimentos (produtos ou especulativos), etc.

Tem-se ainda uma conta de (6) Erros e Omissões, para registrar a diferença nas contas (até o erro é calculado). E por fim, somando-se o Saldo de Transações Correntes com o Saldo da Conta de Capitais e o Saldo dos Erros e omissões, tem-se o Saldo do Balanço de  Pagamentos do País (7 = 4+ 5 + 6).

Se o saldo é positivo, quer dizer que entrou mais dólares do que saiu. Se ocorrer o contrário, então o saldo é negativo.

Pode-se também calcular o PRODUTO NACIONAL BRUTO, que é semelhante ao PIB, com a diferença que ele soma os lucros de nossas empresas no exterior ou outras rendas que brasileiros no exterior remetem ao país e desconta os recursos (rendas) enviadas ao exterior.

A macroeconomia moderna é o estudo dos instrumentos de política econômica que visam o equilíbrio macroeconômico em pleno emprego. Lembrando que, pelas hipóteses keynesianas, no curto prazo não temos problema de Oferta Agregada (OF), pois as empresas trabalham com capacidade ociosa, sendo que, caso a demanda agregada aumentem, as fábricas apenas vão aumentar a produção, sem aumentar os preços.

Para atingir o pleno emprego, portanto, as medidas voltadas ao crescimento econômico devem centrar-se na elevação da Demanda Agregada (DA). Esta é uma variação do consumo das família ( C ), dos investimentos das empresas (I), dos gastos do Poder Público (G ) e do saldo liquido das operações externas (X – M). Ou seja, o governo deve estimular uma destas variáveis (ou todas) para elevar a demanda agregada.

O Gasto Público é a variável que mais rapidamente reflete-se na elevação da DA, pois assim que o governo anuncia o gasto, os setores que serão contemplados já preparam-se para fornecer os bens e serviços que serão demandados.

O Consumo das famílias representa a maior parte da DA, sendo que medidas que facilitem o consumo são importantes (crédito facilitado, baixas taxas de inflação, etc). O consumo é determinado pela propensão marginal a consumir, resultante da variação entre o consumo agregado pela variação na Renda Nacional Disponível.

A renda nacional disponível é a quantidade de recursos que as famílias efetivamente tem para gastar. É resultado da Renda Nacional a custo dos fatores, descontado a tributação e acrescido os subsídios e rendas externas.

Mas o investimento tem um papel mais importante, pois além de impulsionar a DA no presente (curto prazo), também possibilita a elevação da OF no futuro. Porém, a efetivação do mesmo depende de fatores econômicos (rentabilidade, taxa de juros) com fatores não econômicos (otimismo, confiança, etc). E não esquecemos que o investimento também é um reflexo da poupança, que por sua vez, é determinada pela propensão marginal a poupar de cada economia (a parte da RND disponível que não é gasta com consumo vira poupança).

O setor externo também tem grande importância, uma vez que possibilita trazer parte da riqueza exterior para nossa economia (X > M), ou um efeito negativo, a medida que compramos, pagamos serviços ou remetemos mais capitais para o mundo externo (X < M).

No curto prazo, visando o pleno emprego, as políticas macroeconômicas vão influir nestes agregados, visando estimular a DA. Porém, se houver problemas inflacionários (o que contradiz a hipótese keynesiana), medidas restritivas terão que ser adotadas, ou seja, diminuição da DA, o que fatalmente levará a redução do crescimento econômico, estabelecendo um equilíbrio abaixo do pleno emprego.

O estudo da economia é o estudo de tudo isso, sempre tendo em mente que o objetivo da atividade econômica é fornecer os bens e serviços que as pessoas precisam. Para isso estuda-se as melhores formas de se incentivar o crescimento econômico e principalmente, o desenvolvimento econômico e social. Problemas como desemprego, inflação (que é a alta continua de preços), estagnação, são sinais de ajustes ou desajustes da atividade econômica.

Evidentemente que a teoria econômica é bem mais complexa do que esta simplificação, que fiz, mas de certa forma, acredito que este texto apresenta um esboço geral do que estudamos na segunda metade do semestre.

Boa prova a tod@s!!




2 comentários:

Gestão de Pessoas disse...

Não fiz as aulas que foram resumidas por este texto, mas me senti obrigado a comentá-lo, de tão esclarecedor que foi. Parabéns ao autor.
Simplesmente expetacular.

Gostaria apenas de fazer uma pergunta.
Sempre que procuro sobre os setores da economia me deparo com termos como: "Setor primário, secundário e terciário". Como os setores, utilizados por você se relaciona com estes?

Obrigado, forte abraço!

Gestão de Pessoas disse...

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