sexta-feira, 29 de abril de 2011

Desenvolvimento includente, sustentável sustentado - RESENHA

O Desenvolvimento includente, sustentável sustentado




Nérison Dutra de Oliveira

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável sustentado. Editora Garamond Ltda. Rio de Janeiro, 2004.

Nascido na Polônia Ignacy Sachs, cursou a graduação em Economia no Estado do Rio de Janeiro – Brasil, formou-se doutor na Índia e logo após foi residir em Paris. Trabalhou na organização da: 1ª Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, a Estocolmo-72, realizada na Suécia; na Cúpula da Terra, a Rio-92. Sachs é professor de Altos Estudos em Ciências Sociais, conhecedor dos problemas dos países em desenvolvimento, principalmente o Brasil, trazendo em sua obra uma analise sobre desenvolvimento de forma sustentável, para promover a inclusão social, a preservação dos recursos naturais, o bem-estar econômico a partir da geração de empregos de qualidade.

Sachs inicia sua obra analisando a crise argentina e mostrando que algumas lições desta crise desenvolvimentista devem ser absorvidas. Em sua obra ele trata da falácia do pretenso fim da história e da ideologia.

Ao analisar a relação entre o desenvolvimento e o crescimento econômico, deve-se ter em mente que enquanto o desenvolvimento estiver ligado estritamente no crescimento por altos ganhos financeiros e de produtividade do trabalho a exclusão social será uma constante. Assim sendo vês-se a necessidade de se criar uma via para o desenvolvimento sustentável o qual mudará a lógica do modelo capitalista possibilitando aos trabalhadores uma vida digna e uma melhoria na qualidade de vida.

Para o autor as empresas sejam elas grandes, médias ou pequenas não devem priorizar grandes lucros, pois o objetivo deve ser a igualdade e a maximização dos ganhos para os que estão em piores condições de vida, assim reduzindo a pobreza.

Na obra de Sachs são citados cinco pilares do desenvolvimento sustentável, são eles: social, prioritária, pois os problemas oriundos de fatores sociais podem comprometer a qualidade de vida e a ordem nesses locais; ambiental, como sustentação da vida e como fornecedora de recursos renováveis e não renováveis; territorial, território e suas fronteiras, os seres humanos, recursos e atividades; econômico, o gerador de riquezas, o qual viabilizará as atividades e possibilitará o desenvolvimento; político, o fator que possibilitará a democracia com liberdade a toda a população, oferecendo-lhes direitos.

Sachs aponta que para se conseguir um desenvolvimento sustentável, o emprego decente para toda a população deve ser imprescindível e para que isso ocorra devem-se tomar todas as medidas possíveis. Pois o trabalho é um fim e um meio. É importante, não apenas pelo rendimento material que proporciona, mas porque dá ao indivíduo um sentido de identidade, a consciência de ter um objetivo na vida social, a sensação de estar integrado numa sociedade. O trabalho é essencial à qualidade de vida, quer as pessoas sejam empregadas por conta de outra ou trabalhem para si próprias; o trabalho traz os alimentos, o vestuário e a habitação, ou fornece o rendimento que permite comprá-los. O trabalho é o principal meio pelo qual as pessoas tentam satisfazer as suas necessidades de qualidade de vida: um padrão de vida decente, alimentos suficientes, habitação digna, água potável, sane¬amento e lazer...

O autor ainda afirma que o trabalho nacional é de suma importância para se criar uma economia coesa capaz de suportar crises externas. E além da força da mão de obra interna é de extrema importância melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores, estabelecendo conexões entre grandes e pequenas empresas, estimulando a modernização da agricultura, e fortalecendo a indústria nacional.

O mundo atual é marcado pelo crescimento de empresas que chegam a ser maiores economicamente que países, a “luta”, segundo o autor, deve ser a busca por um país democrático, sustentável, igual, onde os mais ricos não acumulem mais riquezas e os mais pobres fiquem mais pobres. Para Sachs todos devem combater a desigualdade, a desonestidade a falta de comprometimento das empresas e do governo em resolver as questões sociais. Para isso ele exalta a educação como uma ferramenta na busca da compreensão dos direitos cívicos, culturais e políticos.

O progresso econômico passa por alguns desafios: oportunidades de trabalho digno, remuneração do trabalho e geração de renda e riqueza. Para tanto o autor sugere em sua obra que se transforme ou ao menos se tente transformar através de estímulos pequenos produtores em empresas organizadas, os quais se inseririam no mercado formal e poderiam competir com as demais empresas inseridas no mercado. O autor, porém ressalta que alguns destes produtores prefeririam ficar com seus negócios com lucros imediatos e na informalidade tributária, mas que caberia ao governo dar-lhes os devidos incentivos para inseri-los na formalidade do mercado.

Sachs também afirma que não bastariam somente estímulos tributários, mas que o governo também deveria dar acesso ao credito a quem realmente precisa dele, facilitando este mecanismo de expansão econômica a setores até então não atendidos, os pequenos agricultores e pequenos produtores urbanos. Para o autor não basta dar crédito a quem já o possuí, e o utiliza sem dar retorno a sociedade, muito menos conferir crédito a pequenos agricultores e empresários a juros abusivos, isto travaria o progresso econômico e com certeza os levariam a informalidade novamente.

Para o autor países em desenvolvimento em especial o Brasil deveriam transformar-se em uma fábricas de empregos, mas isto somente seria possível se as mediadas anteriormente mencionadas fossem adotadas... O autor ainda afirma que o país entra neste novo século líder no setor de agronegócio e com uma indústria moderna e diversificada, porém nossa infra-estrutura, principalmente na área do transporte reflete o atraso social. O autor destaca com muita ênfase a questão dos trabalhadores sem carteira assinada. Também vê como negativo o crescimento econômico promovido pelo mercado, pois o mesmo produz resultados opostos ao desejado, visto como o “mal desenvolvimento”, aquele em que as riquezas se concentram aumentando o abismo social.

Na obra “O Desenvolvimento includente, sustentável sustentado”, tem-se o entendimento que a reforma agrária conduzida de forma organizada, onde o governo possibilitaria crédito, habitação e infra-estrutura aos assentados, trariam muito mais desenvolvimento ao campo, pois se constata nesta obra que 37% da produção agrícola do país vem destes empreendimentos, além disto, o custo da geração de emprego no campo é inferior ao emprego urbano. O autor ainda destaca biodiversidade brasileira como a maior do mundo, e que se bem explorada o país poderia dar um salto no desenvolvimento... Mas para isso a agricultura familiar deve ser incentivada, pois é menos devastadora do meio ambiente, assim podendo conviver de modo sustentável.

O autor ainda faz analises sobre baixa produtividade dos pequenos empreendedores, que buscam a competitividade oferecendo baixos salários aos trabalhadores, a inexistência de proteção social, longas jornadas de trabalho, sonegação de impostos e péssimas condições de trabalho. Desta forma quem perde é o trabalhador e o país. O trabalhador ganhando salários baixos não consegue dar uma vida descente para sua família gerando pobreza, e o país que deixa de arrecadar impostos impossibilitando o crescimento. Porém o Brasil tem grandes possibilidades de crescimento, basta o governo através dos órgãos competentes estimular políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo, conferindo-lhes crédito e fiscalizando as condições de trabalho.

Penso que para que um povo tenha condições consideráveis de qualidade de vida é basicamente necessário que estes tenham um grau de escolaridade alto, pois numa sociedade em que a população tem acesso à escola as pessoas podem exercer melhor seu papel de cidadãs. Assim, quanto mais escolarizada a população, melhor o nível de desenvolvimento. Tendo um bom grau de escolaridade podemos considerar que o povo terá acesso aos meios de trabalho com maior facilidade.

Vivemos hoje a chamada terceira revolução industrial, a era eletrônica, que elevou a capacidade produtiva do homem. Isto, entretanto, não serviu para diminuir o numero de pessoas exposta a miseráveis situações de trabalho, muito menos para revermos a nossa relação com a natureza. O desenvolvimento tecnológico é contrario ao que prevalecia no surgimento da industria ou revolução industrial, quando a idéia de desenvolvimento vinha associada, quando não na realidade, ao menos no imaginário, com a melhoria das condições de vida para todos. Mas esta idéia até no imaginário hoje é esquecida, pois o desemprego e o subemprego são elementos presentes em todas as sociedades, até mesmo nas de capitalismo avançado.

O Desenvolvimento deve possuir qualidades inerentes, como ser sustentável, endógeno, integrado, social e humano, para que assim consiga atingir todas as classes sociais. O desenvolvimento é uma construção social que consegue estabelecer uma dinâmica territorial nas quais são potencializadas as fontes de poder e de riqueza locais, através da interação estratégica entre atores sociais, políticos, econômicos e culturais, considerando seus recursos físicos e humanos e também sua infra-estrutura.

4 comentários:

Thais V. disse...

Olá, Nerison!
Por acaso você teria o texto original, em pdf, do Ignacy Sachs? Estou em busca dele, mas está realmente dificil de conseguir pela internet. Se puder, por favor, me envie para tpmvin@gmail.com
Agradeço desde já,
Thais

Taís Alice disse...

Vocês têm o texto original?
taisalicesc@gmail.com

obrigada

Taís Alice disse...

Vocês têm o texto original?

obrigada

taisalicesc@gmail.com

Luciana disse...

Boa noite,
Também tenho interesse no texto original, Desenvolvimento: Includente, Sustentável, Sustentado, de Ignacy Sachs.
Por favor, enviar para lucianabirras@gmail.com
Muito Obrigada